7.3.07

A história das mulheres

"A verdade é que a contestação feminista não é fácil de entender, muito menos de aceitar. Nem para os homens, muito menos para aquelas mulheres que só sabem jogar no campo da sedução. São pessoas que preferem rotular as feministas de feias, virilizadas, sem graça. Por isso fico particularmente feliz quando encontro uma jovem bonita, dizendo-se feminista. Dançando, rindo e dizendo-se feminista, como acontecia naqueles anos 70."

O trecho é de entrevista da jornalista Laura Greenhalgh com a historiadora Michelle Perrot, que está lançando no Brasil o livro “Minha história das mulheres” (Editora Contexto, 192 págs., R$ ). Laura pondera que é cada vez mais raro ver uma jovem de 20 anos se declarando feminista e Perrot concorda, lembrando que a causa já foi de tal maneira incorporada que as jovens de hoje não sentem necessidade de aderir. Lembrei da entrevista da Maitena dizendo que gostaria de ver meninas de piercing e I-pod também valorizando o movimento feminista.

O livro é resultado de um programa de rádio na França e traz textos de leitura fácil e extremanente ilustrativos de outras formas de cultura e sociedade e o papel reservado às mulheres. Alguns trechos que dão a pensar porque trazem, do passado, marcas de dificuldades e obstáculos enfrentados ainda hoje, arraigados no senso comum, pré-determinados e pré-conceituosos:
  • Os homens são indivíduos, pessoas, trazem sobrenomes que são transmitidos. As mulheres não têm sobrenome, têm apenas um nome. Como pesquisadora, ela tem dificuldades de encontrar histórias de mulheres porque são guardados apenas os papéis dos homens.
  • Na filosofia de Platão, as mulheres são uma ameaça potencial para a vida harmoniosa da coletividade. As mulheres não são apenas diferentes: modelagem inacabada, homem incompleto, falta-lhes alguma coisa, são defeituosas. O homem é criador, a mulher não passa de um vaso do qual se pode esperar apenas que seja um bom receptáculo.
  • Num arquivo francês exclusivamente dedicado a autobiografias, quase não há registros femininos. “Minha vida não é nada”, diz a maioria das mulheres.
  • Hoje, a longevidade das mulheres é maior do que a dos homens. Mas não foi sempre assim. Na Idade Média e na Época Moderna, a maternidade era devastadora e, em caso de dificuldades, preferia-se salvar a criança e deixar a mãe morrer.
  • No nascimento, a menina é menos desejada. Anunciar: “É um menino” é mais glorioso do que dizer: “É uma menina”, em razão do valor diferente atribuído aos sexos.
  • Primeiro mandamento das mulheres: a beleza. “Seja bela e cale-se”, é o que lhe impõe, desde a noite dos tempos talvez. Em todo o caso, o Renascimento, particularmente, insistiu sobre a partilha sexual entre a beleza feminina e a força masculina.
  • De Aristóteles a Freud, o sexo feminino é visto como uma carência, um defeito, uma fraqueza da natureza. Para Aristóteles, a mulher é um homem mal-acabado, um ser incompleto, uma forma malcozida.
  • A mulher é um ser em concavidade, esburacado, marcado para a possessão, para a passividade. Por sua anotomia. Mas também por sua biologia. Seus humores – a água, o sangue (o sangue impuro), o leite – não têm o mesmo poder criador que o esperma, eles são apenas nutrizes.
  • Fisiologistas do final do século 19, que pesquisam as localizações cerebrais, afirmam que as mulheres têm um cérebro menor, mais leve, menos denso. Recusam-se às mulheres as qualidades de abstração, de invenção, de síntese.
  • As mulheres sempre trabalharam. Seu trabalho era da ordem do doméstico, da reprodução, não valorizado, não remunerado. As sociedades jamais poderiam ter vivido, ter-se reproduzido e desenvolvido sem o trabalho doméstico das mulheres, que é invisível.
  • Foi a industrialização que colocou a questão do trabalho para as mulheres. Os operários temiam a concorrência. Um homem digno desse nome deve poder sustentar sua família e precisa de uma mulher que cuide da casa.
  • Atualmente, cerca de 75% das mulheres que trabalham o fazem no setor terciário: vendedoras, secretárias, professoras primárias, enfermeiras.
  • O direito ao saber, não somente à educação, mas à instrução, é certamente a mais antiga, a mais contante, a mais largamente compartilhada das reivindicações. Porque ele comanda tudo: a emancipação, a promoção, o trabalho, a criação, o prazer.

  • São histórias do passado, traços de como já foi a situação das mulheres no mundo Ocidental ao longo dos séculos, que nos ajudam a valorizar a emancipação conquistada hoje.

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