10.1.07

VIVER NÃO DÓI por Carlos Drummond de Andrade


Definitivo, como tudo o que é simples.

Nossa dor não advém das coisas vividas,

Mas das coisas que foram sonhadas

E não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,

Apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana,

Que gerou em nós um sentimento intenso

E que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,

Por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos,

Por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,

Por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Fé é colocar seu sonho à prova!



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Guardem isso:

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

 

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