30.1.08

O texto que eu vou publicar hoje foi considerado o mais lido da Revista TPM (http://www.revistatpm.com.br) e já circulou muito por toda a net. É engraçado como se nota que ele é perfeito pra esse monte de gente que busca um amor. Leiam. E depois digam se já acharam o amor da vida de vocês. E eu? "Eu procuro um amor que ainda não encontrei, diferente de todos que amei." "Ainda encontro a fórmula do amor."

Cadê a tampa da minha panela, o chinelo do meu pé cansado, a metade da minha laranja?

"Tá em ebulição, vazando, transbordando, e nada da tampa da panela pra socorrer a lambança. É culpa da pressão que eu ponho em tudo isso? É o que dizem: desencana que uma hora ele aparece.
O pé cansado já tentou calçar (à força) do chinelão que descola as tiras ao sapatinho de cristal. Nenhum serviu e o coitado tá todo esfolado.
Ninguém pra descascar, chupar ou fazer uma laranjada. Em compensação, laranjas na minha vida não faltam. E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo.
Fim de ano sem amar é deprê, hein? Tô megera o suficiente pra ver uma família feliz no shopping e pensar que aquela instituição ¿image bank¿ não passa de uma união solitária de aparências. Tô megera o suficiente pra furar a fila do Papai Noel e pedir um pirulito, bem grande, bem grosso, bem exclusivamente apaixonado por mim.
Tô megera o suficiente pra abraçar os veadinhos do trenó em homenagem aos meus ex-casos. Tô megamegera o suficiente pra não admitir minha carência e dar uma risada debochada de todas as luzes, canções e emoções de boas-festas.
Tá, mas no especial do Roberto Carlos não vai dar pra ser megera. O filho da mãe sempre me faz chorar. É impressionante como a gente se sente sozinha na porra do especial do Roberto Carlos.
É claro que eu desejo o meu sucesso profissional, dinheiro, saúde, ..., mas nada de atacar para todos os lados nas simpatias deste réveillon. Não dá certo. Este ano vou focar no amor: calcinha vermelha, fitinhas vermelhas e as sete ondas vão ser puladas com a mão no coração (se eu usar a frente-única branca que comprei, é bom que a mão no coração já segura um peito) e uma só intenção: encontrar o danado.
Ah, sejamos sinceras mulheres modernas: no fundo, no fundo, a gente quer mesmo é alguém pra dormir protegida no peito (de preferência largo, forte e levemente cabeludo).
E nem é medo de ficar pra titia não, além de ter cara de mais nova e ser bem
nova, eu sou filha única. É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse".
Dizem que materializar os sonhos escrevendo ajuda, então lá vai: quero beijo na boca profundo, olhos nos olhos, eu te amo e muita sacanagem, quero cineminha com encosto de ombro cheiroso, casar de branco, ser carregada no colo, filhos, casinha no campo com cerquinha branca, cachorro e caseiro bacana. Quero ouvir Chet Baker numa noite chuvosa e ter de um lado um livrinho na cabeceira da cama e do outro o homem que amo.
Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas. Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama. Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso. Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte
do amor. Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. Quero sexo na escada e alguns hematomas e depois descanso numa cama nossa e pura. Quero foto brega na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele (brincadeira...). Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre. Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades. Quero que ele me torne uma pessoa melhor, que faça sexo como ninguém, que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjôos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina. Que a sua remela seja sequinha e não gosmenta e que o tempo leve um pouco de seu cabelo (adoro carecas...). Que suas escatologias não passem de piada e se materializem bem longe de mim. Tem que gostar de crianças, de cachorrinhos, da minha mãe, e tem que odiar ver pessoas procurando comida no lixo. Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocráticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de "essa mulher é única".
É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Exigir demais pode fazer eu acabar sozinha em mais shows do Roberto Carlos. Deus me livre! Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver... Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e não pode ter remela
gosmenta. Pronto!
E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que "aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências" vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor."





Viver não dói
Carlos Drummond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por que?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional







Se eu fosse homem...


Num certo dia, em que a imaginação corria solta pelos acontecimentos e situações que ocorrem por aí, penso em como eu agiria se fosse do sexo masculino.
Tenho muitos amigos homens que, vez ou outra, me perguntam sobre como agir em relação às mulheres... Mas respondo que cada mulher é um mundo à parte. Diferentemente dos homens que se parecem muito entre si (com raríssimas exceções), as mulheres são únicas. Tenho muitas amigas e posso dizer que nenhuma parece com a outra. Vai ver que são os hormônios que nos fazem tão incomuns e diferentes...
Bem, mas voltando ao meu pensamento inicial, listarei algumas coisas que eu faria (ou não faria) se tivesse nascido homem:

Eu não insistiria muito com uma mulher, se visse que ela não estava muito a fim. Lógico que tem que entender que tem todo aquele charminho que nós fazemos, mas dá pra perceber quando há algum interesse. E aí, da arte de xavecar pra de encher a paciência é um pequeno pulo;

Eu seria romântico, sim! Há um certo consenso entre a opinião masculina de que "mulher só gosta de homem cafajeste." Eu discordo totalmente. O que acontece é que os cafajestes são mais românticos do que alguns homens "bonzinhos" e acabam desenvolvendo a arte da conquita. Por isso, ser romântico, ligar pra namorada, ficante ou paquera em alguns momentos só pra escutar a voz, fazer coisas que ela goste, ainda é essencial. Mas é sempre bom lembrar que há o limite do romantismo e do exagero sentimentalesco;

As mulheres gostam de surpresas, acasos e coicindências... Fazer com que elas aconteçam "por acaso" é uma boa idéia!

Ah, uma boa tática pra conquistar alguma mulher é ficar amigo dela. Lógico que uma amizade com aquela intenção desproposital a mais. Ficar só na amizade na primeira noite faz com que ela pense que o carinha é diferente dos outros que só querem ficar, sem qualquer conhecimento prévio. Isso já aumenta uns pontinhos na preferência. (Experiência própria. Eu, particularmente, não me apaixono por pessoas que nem me conhecem e já vem querendo beijar. Nam! Merecem sapinho bem dolorido na língua)

Eu não machucaria corações alheios. Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, mas enganar as coitadinhas e fazê-las sofrer é muito feio! É bom lembrar que quem planta, colhe.. E as experiências errantes observadas para a coleta de dados dessa pesquisa me mostrou uma amostra de sujeitos que acabaram sofrendo o dobro pelas cafajestices cometidas...


Bem, e se o amor acontecer (sim, eles também têm um coração e estão sujeitos a isso como nós), lute por ele. Não é em todo lugar que a gente encontra alguém com quem deseja dividir a nossa vidinha, com a sua individualidade soberana. E pro amor, eu não tenho regras. Nem se fosse homem, nem sendo mulher... Tá certo que a lição eu sei de cor e só me resta aprender... Já faz algum tempo que aquela frase : "E pra começar eu só vou gostar de quem gosta de mim" faz parte dos meus aprendizados que desejo colocar em prática e se cada vez que eu a falasse ganhasse uns cinquenta centavos, estaria agorinha de férias com os muitos milhões de dólares numa conta bancária.
Bem, mas exageros à parte, só recomendo o mesmo que recomendaria às mulheres: sermos nós mesmos, lutar por isso, viver e, se não der certo, a fila anda... Nem que a gente tenha que empurrar o próximo.

Frase da semana:

Dúvidas sobre fazer ou não... Melhor fazer! "Pelo menos eu não vou ficar velho perguntando como teria sido..." do filme De Repente é amor








QUASE...

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Luiz Fernando Veríssimo

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