30.12.09


Desde a chegada de Luciana (Alinne Moraes) ao Brasil, que ela e Helena (Taís Araújo) não se viam. O encontro acontecerá no Ano Novo, na casa amarela, onde Helena e Marcos (José Mayer) estarão fazendo uma festa de réveillon. Elas terão uma conversa surpreendente, que revelará como Luciana amadureceu depois do acidente. Leia a cena completa:


Helena verá Luciana na cadeira-de-rodas, de costas para a porta, a cabeça um pouco baixa, cansada. Helena emociona-se na mesma hora. Fica um tempo assim. Luciana percebe que alguém entrou. Pergunta, imóvel.


LUCIANA:

— Quem é que está aí?

HELENA:

— Sou eu, Lu. Helena.


LUCIANA:

— Ainda não sei manejar esta cadeira, mas tenho bastante tempo pela frente para aprender.

HELENA:

— Eu ajudo.

LUCIANA:

— Não. Fiz um pedido nesse último dia do ano: quero aprender a fazer tudo sozinha. Quero dispensar ao máximo a ajuda de qualquer pessoa. Preciso conseguir isso para não me sentir mais deficiente física do que já sou.


HELENA:

— Você vai conseguir.

LUCIANA:

— É a frase que eu mais ouço: a de que eu vou conseguir. Quando uma amiga minha perdia o namorado e sofria, achando que nunca mais ia esquecer o rapaz, eu dizia: você vai conseguir. Quando uma dessas amigas perdeu a mãe num desastre e me disse: nunca mais vou superar essa dor, esse sofrimento, eu também disse: você vai conseguir. E agora é o que todos me dizem diante das minhas limitações. A de que eu vou conseguir superá-las.

HELENA:

— Você tem razão. É difícil consolar. Sempre dizemos as mesmas coisas porque não sabemos o que dizer diante do sofrimento dos outros.

LUCIANA:

— Vai ver o melhor é não dizer mesmo nada.

Vitória entra

VITÓRIA:

— Desculpem, mas já vão servir a ceia, Luciana. Não quer vir?

LUCIANA:

— Vem me buscar daqui a pouco.

VITÓRIA:

— Tudo bem, mas eu vou levando as adaptações para você comer direitinho, tá?

LUCIANA:

— Tá.

VITÓRIA:

— Já deixo vocês em paz.

OUTRA CENA:

LUCIANA:

— Sua festa está muito bonita.

HELENA:

— Obrigada. Feita assim, às pressas, mas muita gente me ajudou.

LUCIANA:

— Gostei também da casa, de como você arrumou. Pelo menos nessa parte de baixo, que é o que eu pude ver.

HELENA:

— Posso mostrar a casa toda pra você.

LUCIANA:

— Vamos ter tempo pra isso quando eu vier morar aqui. Este quarto era o quarto de hóspedes, quando morávamos aqui.

HELENA:

— Agora estamos arrumando para você. Mais alguns dias e ele vai estar pronto para você mudar quando quiser.

LUCIANA:

— Quando uma de nós brigava com as outras duas, vinha pra cá, dormia aqui, se impunha esse castigo. Eu tinha medo de ficar aqui sozinha na parte de baixo da casa, enquanto todos estavam lá em cima. Minha mãe sabia disso. Então, quando meu pai dormia, ela descia e ficava aqui comigo, contando histórias e esperando o dia clarear. Só então ela subia e se deitava.

HELENA:

— Imagino como você se sentia segura com ela aqui perto.

LUCIANA:

— Só assim eu conseguia dormir.

LUCIANA:

— Fiquei triste quando você perdeu o bebê.

HELENA:

— Pois é. Não esperava por isso. Estava tudo indo tão bem. Estava com dez semanas, nem isso.

LUCIANA:

— Já está tentando engravidar outra vez?

HELENA:

— Ainda não posso. Tenho que esperar mais um tempo.

LUCIANA:

— Eu estava querendo muito ter esse encontro com você.

HELENA:

— Eu também.

LUCIANA:

— E não sabia direito como ia ser e o que íamos falar, mas era necessário estar assim, diante de você, como agora. E olhar nos seus olhos e saber se você está com pena de mim pelo que aconteceu.

HELENA:

— Não, Lu, pena não, não acho que seja o caso. Mas lamento, lamento muito, do fundo do meu coração, da minha alma, o que aconteceu. E juro, juro por tudo que é mais sagrado, como trocaria de lugar com você, se isso fosse possível.

Luciana tem uma rápida reação de desagrado ao ouvir isso.

LUCIANA:

— Ah, você não sabe o que é estar aqui, sentada nesta cadeira de rodas. Não sabe. Acredito que nem imagine. Ninguém pode imaginar como eu me sinto. Já viu um passarinho com as asas cortadas? Ele quer voar, sabe que nasceu para isso, olha o céu e vê os outros pássaros voando, e ele não pode, não consegue, por mais que queira, por mais que tente. Eu me sinto assim. Com as asas cortadas. E pior: sabendo que elas podem não crescer nunca mais. E que o melhor que eu tenho a fazer para evitar um sofrimento maior, é desaprender de voar. Esquecer como se voa. Não olhar mais para o céu.

HELENA:

— Desculpe repetir, Lu, mas sei que você vai conseguir. Seu pai me contou a visita do doutor Kalil.

LUCIANA:

— Você não esteve com ele?

HELENA:

— Não. Estava em Búzios. Foi no dia em que eu perdi o bebê e ele só ficou dois dias no Rio.

LUCIANA:

— Ele foi um encanto de pessoa, mas não me deu nenhuma esperança.

HELENA:

— Eles são muito cautelosos.

LUCIANA:

— Foi o que o Miguel me falou.

HELENA:

— E se não deu esperança, claramente, também não afirmou que isso não seria possível.

LUCIANA:

— Porque nada é impossível.

LUCIANA:

— Não pensei que o nosso primeiro encontro depois que saímos da Jordânia, fosse assim, do jeito que está sendo. Muitas vezes pensei nesse momento. No que eu diria a você. No que você me diria. Tive tanta raiva, ódio mesmo. Culpei você por tudo que me aconteceu.

HELENA:

— Eu me culpei mais do que ninguém.

LUCIANA:

— Passava e repassava, na memória, tudo que eu queria dizer. E cheguei até a me imaginar pulando no seu pescoço, te agredindo, fazendo você sangrar. E também desejei mal a você. Quis que você morresse. Pior: quis que acontecesse com você a mesma coisa que aconteceu comigo. Que sofresse também um acidente e ficasse presa à uma cadeira de rodas. Pior: presa à uma cama, sem poder levantar.

HELENA:

— Eu entendo.

LUCIANA:

— Mas depois vi que nada disso que acontecesse com você me devolveria os movimentos, me faria andar novamente.

LUCIANA:

— Então... desisti de te odiar.

LUCIANA:

— Melhor que fique assim. Não vamos cair nos braços uma da outra. Não imediatamente, pelo menos, mas sei que precisamos conviver bem, de alguma maneira, eu morando aqui, na sua casa.

HELENA:

— Na casa do seu pai.

LUCIANA:

— Que seja. Na casa do meu pai. Estou sendo egoísta, eu sei, pensando só em mim. No que é melhor para mim.

HELENA:

— Tem que pensar em você. Agora mais do que nunca. Pedi perdão ao seu pai, à sua mãe e... e só faltava... pedir a você também que me perdoasse.

LUCIANA:

— Já não culpo você pelo que aconteceu comigo. E se não culpo, não tenho o que perdoar. Vamos ter que viver assim as nossas vidas. Com um certo estranhamento, mas sem rancor. Sem ódio. E quem sabe um dia, tudo fique ainda mais claro e a gente possa então, se abraçar como tantas vezes nos abraçamos.

HELENA:

— Tenho certeza que vamos conseguir.

LUCIANA:

— Tive inveja de você. Do seu sucesso. Da sua independência. Da sua força. Sabia de todas as suas dificuldades para conseguir vencer. Do preconceito que sofreu. E ciúme também por ter casado com meu pai. Por ter feito minha mãe sofrer. E quando soube, quando comentaram comigo sobre o aborto que você fez para não perder um contrato, pensei: é isso. Isso é que vai ferir a Helena mais do que qualquer coisa. E fiquei esperando a hora de atirar esse aborto no seu rosto.
Vitória aparece.

VITÓRIA:

— Lu: agora você precisa ir.

LUCIANA:

— Tudo bem.








Na festa de réveillon de "Viver a vida", ficará claro que Jorge (Mateus Solano) está enfrentando mal a tragédia de Luciana (Alinne Moraes). O arquiteto vai se embebedar e se afastará da noiva. Ela vai perceber, mas não dirá nada. Jorge e Miguel (Mateus Solano) vão se estranhar. O médico dará um puxão de orelhas no irmão: "Você, a mamãe e algumas outras pessoas estão precisando mais de ajuda do que a Lu. Ela não está doente, que não andar não é doença", gritará ele. Acompanhe o diálogo.



Jorge, bebendo muito. Paixão aproxima-se dele.

PAIXÃO

— Você não acha que tá bebendo rápido demais?

JORGE

— Esse Réveillon está me deprimindo um pouco. Ver a Lu assim, no meio de uma festa... é muito estranho... Mas tudo bem, vou acabar me acostumando.

E já se serve de mais uma bebida, indo ao encontro de Miguel. Está meio tonto.

MIGUEL

— Hei, maninho, tá trocando as pernas?

JORGE

— Não tô muito legal.

MIGUEL

— Bebe pra esquecer ou pra lembrar?

JORGE

— Ah, não enche! (CORTANDO) Acha mesmo que essa festa vai fazer bem a Lu?

MIGUEL

— Claro, qual o problema?

JORGE

— Sei lá... Ela fica olhando as amigas dançando... como tantas vezes ela já fez, mas agora não pode mais. Está presa nessa cadeira.

MIGUEL

— Pelo amor de Deus, Jorge, que baixo astral é esse, cara? Se controla, porque senão você é que vai botar a Lu pra baixo.

JORGE

— Tô tentando, mas você acha que é fácil ver a sua namorada assim?

MIGUEL

— Ela está bem. Está indo a uma festa pela primeira vez! Devia estar feliz.

JORGE

— Se você acha isso, você é doente, cara.

MIGUEL

— Você quer mesmo saber o que eu acho? É que você, a mamãe e algumas outras pessoas, estão precisando mais de ajuda do que a Lu. Ela não está doente, que não andar não é doença. Mas vocês estão. Por isso, prefiro sair de perto, porque desânimo e falta de esperança são doenças contagiosas!






Muita emoção na virada de ano dos personagens de "Viver a vida". Primeiro, Tereza (Lilia Cabral) recusará o convite para passar o réveillon na casa de Helena (Taís Araújo) e Marcos (José Mayer). Mas, diante da insistência da filha Luciana (Alinne Moraes), ela acabará capitulando. Não se arrependerá. Chegando lá, ela e o ex-marido travarão um diálogo cheio de duplos sentidos. Vai ter tensão. E também um tom amoroso. Acompanhe:

Marcos:

- Que bom ver você aqui



Tereza:

- Acabei cedendo, a Lu fez questão. Você sabe, sempre fazemos as vontades dos filhos.



Marcos:

- Foi o que você sempre fez.



Tereza:



- Fiz a sua vontade muitas vezes também.

Marcos:



- É verdade, não tenho do que me queixar.

Tereza:



- Não tem, mas certamente se queixa, como todos os homens que se separam. Mas não é exclusividade sua. Nós mulheres, quando nos separamos, também falamos dos nossos ex. Chegamos a babar sangue quando falamos neles. E nem sempre somos justas.



Marcos:

- Vejo que você continua afiada.



Tereza:

- Com a língua afiada, você quer dizer. É uma de minhas defesas. Perdoo, mas não esqueço. Páro de chorar, mas não de sofrer.



Neste momento, eles se olham com um certo encantamento.



Tereza:



- Já fez a sua litinha de pedidos de Ano Novo?



Marcos:

- Eu só penso em ser feliz.

Tereza:



- Eu também. Lembra de uma vez em que combinamos de fazer uma lista por escrito?

E Tereza lembra a Marcos que no topo de todos os pedidos estava "vivermos juntos para sempre".






Eles já não se vêem há meses. Agora, o tão esperado reencontro entre Alcino (Carmo Dalla Vecchia) e Gustavo (Marcos Palmeira) vai acontecer. Em prisão domiciliar sob a acusação de tramar a morte de Gustavo e de assassinar Natasha (Letícia Birkheuer), Alcino receberá uma ligação do amigo de infância e ficará chocado ao ouvir sua voz, confirmando suas suspeitas de que ele está vivo.

Gustavo, em tom sarcástico, o convidará para a festa de réveillon que promove na mansão. Alcino vai até lá, fica emocionado ao vê-lo e explica as motivações que o levaram ao sequestro. Mas o perfumista não acredita nas boas intenções dele e o acusa. Os dois começarão a brigar. Rose (Camila Pitanga) defenderá Alcino e Verônica (Paola Oliveira) chamará a polícia.

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